quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Para além da saudade...

Vaga, no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.

O que choro é diferente.
Entra mais na alma da alma.
Mas como, no céu sem gente,
A nuvem flutua calma.

E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.

Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.

Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.

F. Pessoa

1 comentário:

Anónimo disse...

Oi Paixão!
Se quiserem que eu tenha um misticismo, está bem, tenho-o./ Sou místico, mas só com o corpo./ A minha alma é simples e não pensa./ O meu misticismo é não querer saber. / É viver e não pensar nisso).
F.P.